"Podemos muito bem perguntar-nos: o que seria do homem sem os animais? Mas não o contrário: o que seria dos animais sem o homem?"Hebbel , Christian





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mau Hálito no cão: Sintoma de doença?



A Halitose, designação cientifica para mau hálito, pode ter várias causas. Ao contrário do vulgar "cheiro a cão", que acompanha com maior ou menor intensidade qualquer exemplar canino e não é sinal de doença, a Halitose não deve ser encarada tão despreocupadamente pois é sempre sinal de alguma alteração.

Causas Orais
Contrariamente ao que vulgarmente se crê, o odor proveniente de um aparelho respiratório ou digestivo saudável não é desagradável. 
O mau hálito provém quase sempre da boca (normalmente de uma boca em más condições). A causa mais comum de problemas orais que produzem mau hálito é a Doença Periodontal, uma inflamação dos tecidos que envolvem o dente. Já a Cárie Dentária, um problema relativamente comum nos humanos, é rara nos cães devido à composição da sua saliva (maior concentração de amoníaco  que neutraliza os ácidos responsáveis pela formação de cárie). 
Aproximadamente 85% dos cães com mais de 3 anos apresentam algum grau de Doença Periodontal. É mais frequente e mais precoce em cães de porte pequeno, porque os seus dentes estão mais juntos e talvez porque os seus donos têm tendência para os "mimar" mais com alimentação incorrecta.
Se suspeitar que a causa do mau hálito do seu cão é de origem oral/dentária, recorra ao seu Médico Veterinário assistente. Ele examinará minuciosamente a cavidade oral, identificará eventuais problemas dentários ou gengivais e procederá ao tratamento especifico  que pode passar por uma limpeza completa dos dentes (destartarização, polimento, tratamento das gengivas), normalmente sob anestesia geral.

Se o seu cão é novo, os seus dentes brancos e as suas gengivas saudáveis, mas mesmo assim apresenta mau hálito, a causa pode ser apenas de origem alimentar:

Utilização de dietas pastosas que deixam resíduos que entram em decomposição e começam a libertar um odor putrefacto. Opte por uma ração seca de boa qualidade, que não deixa partículas residuais nos dentes.

Hábitos de coprofagia (comer fezes); é relativamente comum em cachorros e pode não ter qualquer significado especial para além do "esconder a prova do crime" quando são sujeitos a castigo por defecção em local não apropriado. Consulte o seu Médico Veterinário para investigar qualquer outra possível causa, nomeadamente carências nutricionais.

Alimentação pontual com comida putrefacta ou com mau odor. Exemplo típico: "foi roubar ao lixo ou comeu algo do chão inadvertidamente". Resolva o problema para que não o volte a repetir, e não se preocupe quanto ao mau hálito, pois será temporário.
Se nenhuma destas situações se aplica e se o mau hálito teve início há pouco tempo, o seu cão pode ter um corpo estranho na boca (um osso, aglomerados de pêlos, ervas...). Neste caso ele poderá estar a salivar mais que o normal ou a tentar colocar as patas na boca. Examine a sua boca e se for esse o caso e a extracção for fácil, pode tentar fazê-lo. Se a extracção exigir actuação profissional ou se não conseguir identificar qualquer corpo estranho, consulte o Médico Veterinário para um exame completo da boca, eventualmente sob sedação.
Não exclua de imediato um problema dentário só porque o seu cão é novo e os seus dentes aparentemente saudáveis: o desenvolvimento da Placa Bacteriana é rápido, assim como o desenvolvimento de bactérias produtoras de mau cheiro, e o Tártaro forma-se numa questão de dias: podem-se observar depósitos de Tártaro a partir dos 8-9 meses de idade. Institua hábitos de higiene oral o mais precocemente possível.

Doença Periodontal
Uma boca sã apresenta gengivas rosadas ou com o pigmento normal da boca, sem inchaço nem odor desagradável. Se o local de contacto da gengiva com o dente se apresentar mais avermelhado, já existe inflamação (Gengivite), que é a primeira fase da Doença Periodontal.
A Gengivite é causada pela acumulação de Placa Bacteriana na superfície dos dentes e rebordo das gengivas. A Placa é constituída por uma película de substâncias próprias da saliva do cão e bactérias que aderem a essa película  e é invisível a olho nu. Só uma boa escovagem ou a utilização de substâncias com forte efeito anti-placa a eliminam, temporariamente, contudo (em 12 horas restabelece-se).
à medida que a placa bacteriana se vai desenvolvendo e mineralizando por acção do cálcio presente na saliva do cão, vai-se formando Tártaro Dentário, cuja superfície rugosa promove ainda mais a adesão e proliferação de bactérias. A formação de Tártaro é mais precoce e intensa nos pré-molares e molares, particularmente no dente carniceiro (4° pré-molar, o mais robusto dos dentes posteriores), que se situa na proximidade do local onde é secretada a saliva. Por esta razão deve dar-se especial atenção à higiene oral desta zona da boca. Uma vez formado, o Tártaro só poderá ser eliminado através da intervenção do médico veterinário.
À medida que a Gengivite progride com o desenvolvimento do Tártaro, começam a formar-se espaços ocos entre o rebordo da gengiva e os dentes. Estas bolsas acumulam resíduos alimentares e proporcionam um óptimo local para proliferação de bactérias que produzem muito mau cheiro, agravando a Halitose.

Higiene Oral
Alguns advogam que a escovagem dos dentes é essencial nos cães. Contudo, é praticamente impossível de realizar. Porquê? Porque para ser eficaz exige que seja feita de 12 em 12 horas, com uma inclinação da escova de 45°. Imagina-se a efectuar esse procedimento no seu cão ou gato durante toda a sua vida?
As barras de higiene oral complementam a escovagem ou substituem-na nos casos em que o animal não tolera o procedimento (o que acontece quase sempre). A acção mecânica e abrasiva da sua mastigação auxilia a eliminação da Placa Dentária. Aconselhe-se e adquira-as junto do seu médico veterinário. Barras com princípios activos anti-placa funcionam como uma escovagem, permitindo assim substitui- la. É o caso das Barras Dental-B, que contêm o anti-agregante RF2.
Uma dieta à base de ração seca evita a acumulação de resíduos e tem uma acção de limpeza natural pois é mais abrasiva. Evite guloseimas açucaradas ou moles, e para recompensa ou treino comportamental utilize barras de higiene oral.

Outras causas de Halitose
Outras causas menos comuns de problemas orais que originam halitose, e cujo diagnóstico passa obrigatoriamente por exame Médico-Veterinário, incluem:

Estomatite Periodontal Ulcerativa Crónica, que causa úlceras na mucosa oral e léngua. Pensa-se que seja uma reacção alérgica à Placa Bacteriana. Raças predispostas: Cocker Spaniel, Cavalier King Charles Spaniel.
Tumores da boca e gengivas. As raças braquicéfalas (“focinho achatado”), principalmente os Boxers, são predispostas para um tipo especifico de tumor benigno das gengivas denominado Epulis, que exige extirpação cirúrgica.
Se bem que muito menos frequentes, existem outras causas extra-orais que poderão causar mau hálito, e cujo diagnóstico passa também e obrigatoriamente por exame médico-veterinário:

Insuficiência Renal (mais frequente em cães idosos): o hálito adquire odor a amoníaco  e o cão pode apresentar úlceras na boca, para além de outros sintomas gerais, que podem ir desde uma pequena perda de apetite até vómitos, diarreia ou mesmo convulsões e coma. Procure imediatamente assistência médico-veterinária.
Diabetes complicada: o hálito adquire odor a acetona, e o animal apresenta-se gravemente doente, eventualmente com vómitos e hipotermia. Procure imediatamente assistência médico-veterinária.
Problemas do Aparelho Respiratório: Rinite e Sinusite.
Problemas do esófago: Megaesófago (dilatação do esófago – canal que conduz a comida da boca até ao estômago – com acumulação e estagnação de comida, que vai apodrecendo); Corpo Estranho alojado no esófago.
Dermatite Perioral: infecção bacteriana da pele nas proximidades da boca, que provoca odor desagradável. Dermatites no interior de pregas de pele (Intertigo) em raças com pregas junto à boca ou ao focinho (ex. Boxer, Bulldog, Shar-Pei) podem ter um odor extremamente pestilento, que o dono pode julgar erradamente ser mau hálito proveniente da boca.
Doenças Auto-imunes: Lúpus Eritematoso, Pemphigus (podem provocar ulcerações na mucosa oral, lábios ou ao longo do focinho; com o tempo podem infectar e libertar mau odor). São doenças pouco comuns.
Concluindo, o mau hálito não é aceitável num cão e pode ser sintoma de graves problemas.



Ficou a conhecer com este artigo as possíveis causas, em que situações deve recorrer ao seu Médico Veterinário, e quais as formas de evitar o mau hálito de origem dentária. Uma higiene oral regular e bem realizada, através do fornecimento de barras orais palitáveis com princípios activos anti-placa evitam problemas futuros.

Rita Baptista
(Médica Veterinária)

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